Da Janela da Solidão

domingo, 9 de fevereiro de 2014 23:30 Publicado por ANNA LUISA PIRES 0 Comentários
   E na solidão da madrugada, se escondem todos os meus medos e tristezas. As mágoas afogadas por uma garrafa de vinho deixam a existência mais suportável. Aquela velha sensação de que nada está no lugar certo.
   Aquele velho desejo de felicidade, e aquelas velhas lágrimas companheiras que insistem molhar meus olhos com esse sal que resseca, que dói. Sabe aquela sensação boa, de lar, de segurança ... Não me lembro de me sentir assim, desde... sei lá, nunca.. ou a lembrança é tão vaga que parece uma imagem no horizonte de um dia quente: turva e distante. E desde que me dei conta de que não era mais menina, esse vazio me acompanha, me marca. Não é justo não ser feliz por tanto tempo heim?
   É um ciclo de indiferenças, de raiva reprimida, de dor não sentida e tristeza guardada. Só sei que é persistente e contínuo. Eu juro que passei anos acreditando que isso um dia fosse passar, mas não... só volta de formas diferentes. E sempre no pior dia, da pior semana, na pior hora: no auge da lua e da minha solidão.





Anna Luisa Pires


Não há paz. Mar de águas turbulentas, um navio quase naufragado e um último tripulante. Em meio à tempestade, navegação complicada, tão cheia de chuva, e o sol nunca aparece em meio ao arco-íres. Às vezes há uma surpresa e lá longe no horizonte se esconde o astro rei, a luz em meio a escuridão, o fogo, tão esperado, tão desejado, final feliz, nunca vem.
Pairam nuvens sobre o mar mesmo quando as águas estão calmas. – O que fazer? – Pergunta o tripulante, na esperança de que surja alguma solução pro seu navio desgastado. Se até a rocha é esculpida pela água, que chance teria um navio sem forças para enfrentar uma tempestade? Não há chances, o navio sempre afunda. 



Anna Luisa Pires

Chora até passar


   Chora menina, chora até a dor passar. Chora até não aguentar, chora ate que as lágrimas deem lugar a felicidade. Extravasa, tira tudo de ruim do peito, deixa essa agonia vir e passar despercebida. Você consegue, vai, só mais um pouquinho, você é tão forte, menina. Por trás dessa fragilidade há tanta energia, vai buscar sua força. 
   Mas agora não, agora você pode chorar, deixa sair, deixa livre, chora até dormir, chora até as coisas se tornarem fáceis. Chora até sonhar, e sonha com um príncipe bem bonito, o príncipe que você merece. E chora até acordar, porque quando despertar vai perceber que tudo isso não passou de um pesadelo.





Anna Luisa Pires

   Levanta não, te pago outra vodca, quer? Só pra deixar eu falar mais na roda. Você é muito garoto, não entende dessas coisas. Deixa a vida te lavrar a cara, antes, então a gente. Bicho esquisito: eu ia dizer alma, sabia? Quer que eu diga? Tá bom, se você faz tanta questão, posso dizer. Será que ainda consigo, como é que era mesmo? Assim, deixa a vida te lavrar a alma, antes, então a gente conversa. Deixa você passar dos trinta, trinta e cinco, ir chegando nos quarenta e não casar e nem ter esses monstros que eles chamam de filhos, casa própria nem porra nenhuma. Acordar no meio da tarde, de ressaca, olhar sua cara arrebentada no espelho. Sozinho em casa, sozinho na cidade, sozinho no mundo. Vai doer tanto, menino. Ai como eu queria agora ter uma alma portuguesa para te aconchegar ao meu seios e te poupar essas futuras dores dilaceradas. Como eu queria tanto saber poder te avisar: vai pelo caminho da esqueda, boy, que pelo da direita tem lobo mau e solidão medonha.





 Caio Fernando Abreu - Os Dragões Não Conhecem o Paraíso

Beleza da Vida

Ninguém sabe como lidar ou esperar a morte. É de repente, vem sem hora, sem tempo. Simplesmente chega, não pede licença, apenas acontece, e nem pede desculpas por levar uma parte sua embora. A morte é sacana, má, nem espera você se acostumar com a ideia de viver sem uma pessoa, num momento tá tudo bem, e antes que você perceba, a morte se encarregou de levar quem você amava. E ela tem pressa, não deixa tempo para despedidas nem para ultimas palavras, é tao rápida quanto um piscar de olhos, e quando os olhos se abrem se surpreendem. E a vida, e a beleza da vida? Quem não foi feliz, tem conserto, dá pra voltar atras, dá tempo pra falar do amor, da felicidade, da insignificância da vida humana? Deixa dona morte, deixe os pobres mortais viverem mais um pouco hein? Quem sabe a vida não foi justa e a senhora possa dar tempo pra essa gente simples que viveu pra trabalhar e morreu sem ter vivido, dá dona morte, dá tempo pra eles... Suas vidas podem ter mais que trabalho, elas podem ter valor, essas vidas podem marcar, ter importância, mas dá dona morte, dá um tempo a mais pra eles? Não, ela não da. A tv ligada, o fumo na mesa, o coração solitário e o corpo caído no chão. Ele não teve tempo nem de ligar pra alguém. Como a senhora é rápida, dona morte, ele não se despediu, não contou sua historia e não disse se morreu feliz. Ele simplesmente morreu, ali deitado no chão buscando o ultimo suspiro da vida, suspiro esse que a senhora levou sem ter piedade. Como dorme a noite hein? Como dorme pensando que levou alguém tao bom embora? Por que faz isso dona morte, por que leva tanta gente de coração bom embora? Leva gente ruim, mas não leva um homem que trabalhou a vida toda e não pôde nem sequer descobrir a vida, não leva um velho que não faz mal nem a uma mosca, não leva ele dona morte, leva não, a família vai sofrer sem ele, ele pode não ter sido famoso nem um grande homem, mas ele é importante pra gente, ele fez parte da nossa vida, leva não dona morte, deixa ele aqui, ainda há tanto pra descobrir, tantos anos que podem ser vividos, deixa ele mais um pouco... Não. A morte fria e pálida não aceita súplicas e nem reclamações. e mais uma vez me pergunto: e a vida, e a beleza da vida, cadê? A gente nasce, cresce e morre, nada mais que isso. Anna Luisa Pires

Conto de Fadas

Naquele momento parecia só existir eu e você, ou o fim de nós dois, não sei bem o que passou pela minha cabeça aquele momento . Enquanto fechava a porta do meu quarto, podia me lembrar de todas as vezes que acordei e o vi deitado ao meu lado, ou as vezes que dormia olhando pro seu rosto, é claro que eu sabia que isso iria acabar algum dia, e aquele momento que eu fechava a porta, os momentos se tornariam lembranças, toda dor, todo amor, todo prazer, tudo acabou no momento em que fechei a porta. Não é que o amor havia acabado, o que havia se esgotado era nosso tempo, o tempo em que eu era sua e que você era meu. Eu ainda não sabia o que ia acontecer, mas depois da porta fechada, umas lágrimas teimaram em cair, uma certa confusão pairou sob minha cabeça e eu vi: é o fim de um conto de fadas. Mas esse conto não é como os outros : nesse conto o príncipe agora tem outra princesa, e a princesa dessa triste história agora, vive aprisionada em seu castelo se perguntando: o que houve com meu final feliz?





Anna Luisa Pires

Mais uma vez, as lágrimas devoram meus olhos ao amanhecer. Não sei se é a noite caindo ou o sol aparecendo, parece o fim de um ciclo e eu nunca fui boa em terminar as coisas. Amores acabando, pessoas partindo, nunca gostei de despedidas, adeus, isso é tão sério, permente . Sei que há algo errado, claro que lágrimas ao dormir não são normais, mas há outra coisa: um sentimento o a falta dele. Não ter quem amar, e não ter quem te ame de volta. Triste, não ? Há coisas mais tristes, mas a solidão de alguém é preocupante e por que ninguém se preocupa? Um coração vazio é tão ruim quanto um corpo doente. E alegria de viver, cadê a felicidade? Não sei, foi passear e disse que não volta mais.







Anna Luisa Pires