quinta-feira, 13 de dezembro de 2012 10:48 Publicado por ANNA LUISA PIRES
   Levanta não, te pago outra vodca, quer? Só pra deixar eu falar mais na roda. Você é muito garoto, não entende dessas coisas. Deixa a vida te lavrar a cara, antes, então a gente. Bicho esquisito: eu ia dizer alma, sabia? Quer que eu diga? Tá bom, se você faz tanta questão, posso dizer. Será que ainda consigo, como é que era mesmo? Assim, deixa a vida te lavrar a alma, antes, então a gente conversa. Deixa você passar dos trinta, trinta e cinco, ir chegando nos quarenta e não casar e nem ter esses monstros que eles chamam de filhos, casa própria nem porra nenhuma. Acordar no meio da tarde, de ressaca, olhar sua cara arrebentada no espelho. Sozinho em casa, sozinho na cidade, sozinho no mundo. Vai doer tanto, menino. Ai como eu queria agora ter uma alma portuguesa para te aconchegar ao meu seios e te poupar essas futuras dores dilaceradas. Como eu queria tanto saber poder te avisar: vai pelo caminho da esqueda, boy, que pelo da direita tem lobo mau e solidão medonha.





 Caio Fernando Abreu - Os Dragões Não Conhecem o Paraíso

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